Ninguém se importa com o que você escreve
Depois de 6 meses brigando com sua insegurança, você finalmente decide escrever e publicar aquela história que morava na sua cabeça fazia tempo e teimava em não ir embora. Mas agora que você publicou, não para de imaginar o que as pessoas vão achar de você quando lerem sua obra-prima. Será que elas vão gostar, ou só vão rir da sua cara? Essa dúvida te consome por dentro até que você tem uma ideia genial: pedir para a pessoa que mais te ama no mundo ler o seu texto e dar a opinião dela. Assim você terá certeza da qualidade do que fez e isso vai quebrar essa insegurança boba.
Então você chega na sua mãe e pede para ela ler o que escreveu. E ela responde: “Que lindo, meu filho, escreveu uma historinha. Mamãe lê daqui a pouco porque agora está fazendo o almoço.” O problema é que isso foi em 2019. E ela ainda não leu o seu texto. A mulher passa 6 horas por dia assistindo vídeos de 8 segundos de pessoas dançando na internet, mas não tem tempo para ler a sua história.
Isso acaba com você.
Daí você fica traumatizado, tira sua obra-prima do ar e nunca mais escreve nada na vida. E o pior é que, desse dia em diante, você passa a se questionar se a sua mãe realmente te ama. “Deixa essa velha”, você pensa, “um dia ela vai precisar de mim”.
A parte boa é que sim, ela te ama. Sério. Ela só não gosta do que você escreve. Não é nada pessoal, é só que… Bom, ela não gosta do que ninguém escreve porque não gosta de ler. Assim como a maior parte da sua família e dos seus amigos. E esse vídeo não é para falar de como os brasileiros não lêem e blá blá blá. Porque, de fato, eles não lêem e blá blá blá, mas até agora isso não era problema. Só que agora ficou pessoal. Porque é você quem está escrevendo.
Então, esse texto, na verdade é para falar sobre confiança — do francês confiance.
Pedir para pessoas próximas lerem o que você escreve pode ser um tiro no pé. Sim, é uma forma de superar a insegurança de publicar, mas como essas pessoas não têm o hábito de ler, acabam não lendo o seu texto. E aí você fica mais inseguro ainda, achando que sua história é horrível. Então não peça para sua família ler o que você escreve. Nem mesmo para sua mãe. Muito menos para sua mãe. Ou peça, mas não espere muito delas.
E antes que você comece a chorar em posição fetal porque vai ter que desistir das suas histórias, eu preciso dizer que sim, existe uma alternativa melhor. Eu sei disso porque foi o que aconteceu comigo. Depois de 15 anos sem escrever uma única história — sim, eu sou velho —, resolvi tentar. Foi difícil no começo, mas, como em toda boa história, tive um final feliz. Escrevi e publiquei um conto com umas 2.500 palavras. Mais ou menos um capítulo de um livro. Eu mostrei para pessoas próximas, claro. Algumas leram, mas a maioria não. Só que o mais impressionante foi que pessoas que eu não conhecia, nunca tinha visto na vida, começaram a ler minha história. E elas falaram coisas incríveis. E isso me deu confiança para continuar escrevendo.
Então, se me permite, quero falar mais duas coisas:
A primeira é que você não vai encontrar cuecas no açougue e nem vai ouvir Taylor Swift num pub irlandês. E sim, é exatamente isso que você leu. Cada coisa tem o seu lugar. E cada lugar tem o seu público.
E se ainda não ficou claro, e eu sei que esse é um risco, basicamente você tem que postar suas histórias no lugar certo. Onde outras pessoas possam e queiram encontrá-las. Por isso existem essas coisas estranhas chamadas redes sociais de escritores, onde pessoas que gostam de ler e escrever se reúnem em busca de histórias incríveis. Elas frequentam os cantos mais obscuros da internet em busca daquilo que não pode ser encontrado na Amazon ou em uma livraria comum. Mas, mais do que só uma história, elas querem se conectar. Então, se você está começando nesse mundo e não sabe do que eu estou falando, sugiro que encontre um desses lugares. Lá há pessoas dispostas a ler o que você — e muitos como você — têm a escrever. Se você não conhece um lugar assim, é só digitar “rede social de escrita” no seu site de busca favorito. Não pense muito em qual é o melhor lugar. Só escolha um e publique. Simples assim. É só ir fundo e publicar a sua história, porque só assim ela vai sair da sua cabeça e parar de te atazanar. Garanto que ninguém vai te julgar. Muito.
A segunda coisa que eu quero falar nesse vídeo é que nós, seres humanos, temos a mania de achar que está todo mundo prestando atenção na gente, mas a verdade é que as pessoas estão mais preocupadas com elas mesmas. Isso é um viés cognitivo e tem até nome: Efeito Holofote. E se você não acredita, pergunta pro ChatGPT, ele sabe tudo e vai confirmar. Além disso, é fácil testar: pense nas últimas três postagens de alguns dos seus amigos. Você consegue se lembrar do que eles escreveram? Provavelmente não. Então, se você não publica o que escreve por medo do que as pessoas vão pensar, eu só digo isso: ninguém se importa. A não ser pessoas como essas, que vão se conectar com o que você tem a dizer. E que talvez guardem uma de suas histórias para sempre na memória. Não porque são da sua família, mas porque querem.
Tchau.