4 erros que fazem o protagonista CHATO
Bilionários são estranhos. O Jeff Bezos, por exemplo, tem dinheiro para fazer um monte de coisas legais, mas, por algum motivo, resolveu arruinar o “Senhor dos Anéis”.
Brincadeira.
“Anéis de Poder” não é tão ruim assim. Só é… sem graça. E um dos motivos, entre muitos outros, é que a Galadriel, a protagonista da série, é muito. Muito. Eu já disse “muito”? Muito chata. E olha que a versão dela nos livros é amada pelos fãs, então os roteiristas tiveram que se esforçar bastante aqui. Por isso eu fiz esse texto especialmente para o Jeff Bezos poder entender onde ele errou, mas é claro que você também pode ler, caso queira evitar esses erros quando for criar os seus protagonistas.
Então vamos falar sobre os 4 erros que tornam o protagonista um chato.
Anéis de Poder é uma série lançada em 2022 pela Amazon Prime, que é o braço de streaming da Amazon. A primeira temporada foi bastante criticada, apesar de ter, sim, algumas coisas boas nela. Mas, não satisfeito, o sr. Bezos lançou a segunda temporada da série, que melhorou alguns aspectos da anterior, mas outros ainda ficaram a desejar. E um deles foi a protagonista: Galadriel. A gente simplesmente não consegue gostar dela, mesmo que os roteiristas tenham usado um punhado de técnicas narrativas para isso. O problema é que, para cada técnica narrativa de empatia, que normalmente é usada em protagonistas, eles também adicionaram características vilanescas, que fazem a gente não gostar do personagem.
Eu, pessoalmente, acredito que eles tentaram construir uma protagonista multidimensional, com camadas, sabe? Mas já adianto que falharam miseravelmente. E eu posso provar! Então, sem mais enrolação, vamos entender por que a Galadriel da série é uma chata.
Clichê
Na primeira cena, a Galadriel aparece como criança elfa sofrendo bullying de outras crianças elfas. Afinal, a raça deles não é tão superior assim, não é mesmo? Essa é uma técnica interessante, pois nós, seres humanos, tendemos a torcer para quem é injustiçado ou agredido injustamente. Se a pessoa A está de boa na lagoa, por exemplo, e a pessoa B xinga essa pessoa, nós automaticamente torcemos para a pessoa A. Se a pessoa A for uma criança, nós passamos a odiar a pessoa B.
O problema é que essa técnica ficou tão comum em Hollywood que acabou virando um clichê. E, como todo clichê, para ser usado, tem que ser bem feito. O que não foi o caso. Já que, nessa cena, as crianças bolinam a Galadriel afundando o barquinho de papel dela. E isso não tem grandes consequências emocionais para ela. E não me entendam mal, todo bullying é errado, mas, dentro da ficção, alguns são mais errados do que outros. E, para a técnica funcionar, a ação das crianças teria que ter alguma consequência mais impactante para a Galadriel. E, com isso, essa técnica, que foi utilizada para gostarmos da personagem, acaba perdendo seu efeito.
Então, o erro número 1 é o clichezão barato.
Só lembrando que o clichê em si não é uma característica do personagem, é óbvio, mas, neste caso, ele faz com que a intenção da cena inicial da obra perca força. E, ainda por cima, seu cérebro percebe que tem alguém tentando manipular ele e não gosta disso. Ele prefere ser manipulado sem saber.
Mas tudo bem, porque os roteiristas usaram uma segunda técnica para a gente gostar da protagonista.
Objetivo grandioso
Se alguém diz que quer ser rei dos piratas, a gente torce por essa pessoa. Se o ninja mais pé-rapado da vila diz que quer ser o Hokage, a gente torce por ele. Se um cara de franjinha diz que quer salvar a galáxia do império do mal, a gente também vai torcer por ele. E não é você que decide isso, é o seu cérebro.
No caso da série “Anéis de Poder”, a Galadriel acredita que Sauron está vivo, então ela quer encontrar e destruir ele para salvar a Terra Média. E isso é louvável e até faria a gente torcer por ela. Mas, logo em seguida, a gente começa a notar a primeira característica vilanesca ali: o fanatismo. Na cena da caverna, nas montanhas, ela coloca a vida dos membros do grupo dela em risco em busca do que acredita. E isso não é legal.
O Luffy, por exemplo, nunca sacrificou um nakama pelo sonho de ser rei dos piratas. E, se ele fizesse isso, a gente não ia gostar tanto dele assim. Esse comportamento da Galadriel se repete em diversas situações no decorrer dos episódios. E, mesmo a gente sabendo que o Sauron precisa ser parado, a gente acaba pensando, de forma inconsciente: “Pera lá, amiga, não precisa disso tudo.” O seu cérebro não gosta de fanáticos. Eles são perigosos.
Então o erro número dois é o fanatismo. Mas, ok, vamos para a terceira técnica de empatia.
Sofrimento
Você vê um homem chorando na rua, você automaticamente sente empatia por ele. Se for uma criança, você gosta dela sem nem saber quem ela é. Se for uma criança ninja órfã, rejeitada e excluída por todas as outras pessoas da vila, você chora por ela. Se for um bebê panda ninja órfão, abandonado longe da sua terra natal, passando fome e com lágrimas nos olhos, o seu coração simplesmente explode. E isso é um fato.
No caso da série, a Galadriel sofre pela perda do irmão dela na guerra. Assim como o Naruto sofre por ter sido isolado pelas pessoas da vila. E isso faz com que a gente goste deles. Mas aí vem o erro número 3 na série: com o passar do tempo, a gente entende que a Galadriel, na verdade, transformou o sofrimento dela numa espécie de sede de vingança doentia. O que acaba fazendo com que a gente questione o objetivo grandioso dela. Afinal, será que ela quer realmente salvar a Terra Média ou só quer vingar o irmão dela? Eu não sei se preciso dizer o óbvio, mas: vingança é ruim. A gente não gosta de pessoas vingativas. Nem de personagens que sejam vingativos por natureza. E, por mais que seja possível escrever histórias incríveis sobre vingança, existe um jeito certo de fazer isso e uma coisa eu garanto: “Anéis de Poder” não é sobre isso.
A Galadriel até poderia ter um arco de redenção em que admite o que sente e abre mão da própria vingança em prol da Terra Média. Mas isso não acontece. Então ela só fica parecendo a fanática vingativa mesmo. E isso não ajuda muito ela.
Logo, o erro número 3 é sede de vingança.
Agora vamos para a última técnica usada
Personagem competente
Fazer o personagem ser muito competente em algum aspecto faz com que gostemos dele. Pessoas que são incríveis no que fazem chamam nossa atenção. Não só na ficção, mas na vida real também. A gente vê isso nos esportes, no circo, na dança, na luta e, claro, na ficção. Há um fator hipnotizante em ver alguém que treinou muito determinada habilidade performando o seu ofício.
No caso do Luke Skywalker, por exemplo, quando a gente vê ele no treinamento dando mortais com um alienígena peludo nas costas e depois descobre que ele virou o rei do sabre de luz. É impossível não gostar dele, mesmo com a franjinha. No caso da Galadriel, ela é uma guerreira fenomenal. Além de inteligente e culta, mesmo para um elfo. E esse é um dos motivos pelos quais tanta gente gosta da versão dela dos livros. Ela é incrível.
O problema é que, na série, ela usa essas habilidades para manipular outras pessoas e atingir seus próprios objetivos. O coitado do Sauron, quando a gente não sabia quem ele era, foi feito de gato e sapato durante a primeira temporada inteira. O cara só queria ficar de boa e a chata da Galadriel insistindo para ele ir lutar contra um exército de orcs. Já pensou que, se ela não tivesse feito nada, ficado quietinha no barco e ido para Valinor? A série teria acabado com quinze minutos.
Acontece que usar sua inteligência para manipular outras pessoas não é legal. Usar sua força para humilhar, como ela fez em Númenor com os recrutas do exército, também não. Naquela hora, ela virou a “bolinadora”. A-ha. Usar características opostas num mesmo personagem não o torna complexo. Torna-o incoerente. E isso deixa a gente confuso. E o que a gente não entende, a gente não gosta. E é por isso que é impossível gostar da Galadriel da série. É por isso que ela é chata.
E, com isso, terminamos nossa lista do que não fazer com seu protagonista.
Mas não vá embora porque ainda não acabou. Agora é hora do bônus: se você não quer cometer esses erros com o seu protagonista, eu vou ensinar os 4 passos que você vai ter que seguir para que isso não aconteça:
Passo 1: Olhe com bastante atenção para a tela do seu celular/notebook.
Passo 2: Se estiver sentado, levante. Se estiver de pé, sente.
Passo 3: Diga bem alto para o mundo ouvir “EU ODEIO BRIÓFITAS”.
Passo 4: Elimine do seu protagonista todas as características citadas acima.
Simples, né? Eu tenho que dizer que o passo 4 é o mais importante, mas os outros também têm o seu papel.
De nada, Jeff Bezos.
Tchau.